A maioria dos brasileiros ficou irritada quando viu Thierry Henry marcando livremente o gol da vitória da França sobre o Brasil na Copa da Alemanha, enquanto Roberto Carlos arrumava calmamente sua meia.
Invadiram e dilapidaram nosso patrimônio e Roberto Carlos não esboçou nenhuma reação. Depois ainda afirmou que não era com ele a marcação do atacante francês.
Sabem do que me lembrei? Canso de ver esta jogada acontecer quase que diariamente nas empresas. Como? Fornecedores que deitam e rolam em negociações mal feitas, clientes que são mal tratados, descontos dados em demasia pelo pessoal de vendas, tolerância com pequenos deslizes de comportamento, gente boa sendo demitida, gente ruim sendo mantida, desperdícios de todas as naturezas. Enquanto isto, muitos gestores (supervisores, chefes, gerentes, diretores e até acionistas) arrumam a meia.
A solução envolve muita disciplina e trabalho. Mas é simples. Não sei exatamente quem é você, que neste momento lê este artigo. Você pode ser um acionista, executivo, staff ou operador na sua empresa. Mas eu sei que você pode agir.
Como? Não tolere qualquer funcionário e até mesmo qualquer fornecedor que seja passivo perante os desperdícios e os problemas da empresa.
Não tolere gente que não esteja apaixonada pelo que faz e pela empresa! Talvez alguém esteja pensando que falar em paixão pela empresa seja algo utópico ou fora de moda. Mas não é! Fora de moda são os roberto carlos da vida arrumando a meia enquanto seu concorrente avança sobre seus clientes e sobre seu patrimônio. Fora de moda é PREJUÍZO. Empresas de verdade são empresas com pessoas indignadas com o erro e com a derrota.
Elimine sumariamente os roberto carlos. Promova os apaixonados. Este artigo não é um desabafo sobre a nossa derrota na Copa. É um alerta para o jogo das empresas na vida real que está em pleno andamento. Organize o processo de avaliação de desempenho. Somente um processo pode garantir a repetição do cuidado de estar sempre vigiando os roberto carlos.
Uma historinha final: perguntei, por estes dias, para o presidente de uma empresa com lucros muito baixos se ele não achava muito estranho o fato de sua equipe gerencial estar com rotatividade zero nos últimos 5 anos. Todo mundo satisfeito com a empresa, ninguém saindo para oportunidades melhores, etc. O presidente, surpreso, perguntou-me se esta rotatividade zero não era um bom sinal. E eu respondi que não era um bom sinal. Era uma evidência nefasta de acomodação e desqualificação do time de gerentes. Uma pequena rotatividade espontânea de pessoas-chave na empresa é saudável, mostra que são atrativos para o mercado. Nenhum gerente pedindo para sair em 5 anos mostra que o time gerencial não é atraente para ninguém no mercado. Ou seja, são os ruins ou medianos que ficam agarrados no seu emprego. São os mesmos que, além de não saírem, abafam qualquer talento abaixo de si.
Viu como a tarefa de RH é gigante? Estar sempre vigiando. Muita rotatividade nos talentos é ruim, mas zero também é.
Perguntem para o Roberto Carlos se ele não continuaria mais 4 anos na Seleção? Continuaria sim, e arrumando a meia...
Um abraço fraterno a todos e boas vendas!!!
