Proteger a empresa, mesmo sem todas as evidências

07/04/2015

Proteger a empresa, mesmo sem todas as evidências

O interesse da empresa sempre deve prevalecer sobre o interesse de um indivíduo. Considero ridículo o conceito marxista que mostra o “homem como um ser social” e concordo integralmente com Ayn Rand na vinculação da prosperidade de homens e de sociedades ao individualismo. A meritocracia tem seu fundamento na individualidade e apenas os medíocres querem uma sociedade onde todos sejam iguais. Mas, quando ameaçada, uma empresa é maior do que qualquer um dos seus indivíduos. Cabe ao líder entender este conceito e proteger sempre o interesse coletivo da Organização.



Escrevo este artigo respondendo ao questionamento de um amigo e cliente, um dos mais brilhantes executivos que conheço e autor do prefácio do meu livro, Amin Murad. Ele corretamente alertou-me sobre a necessidade de explicar de forma clara o significado da frase “Esta é a definição de líder: ...privilegie o coletivo em detrimento do individual etc.”, contida no artigo 629. Concordei integralmente com a observação de Amin e providencio o esclarecimento: privilegiar o coletivo em detrimento do individual significa proteger sempre o interesse da empresa. Nenhum interesse individual pode sobrepor-se ao interesse coletivo da empresa. Este parece ser o ponto mais importante da dúvida. Vamos a um exemplo real e contundente: em uma empresa de grande porte, um diretor identificou o sumiço de 5 mil dólares do seu cofre. Somente ele e a secretária tinham a combinação. Detetives foram chamados, investigaram até a família do diretor e concluíram que a grande suspeita realmente era a secretária, embora não houvesse provas concretas. Sem alarde e sem justa causa, ela foi demitida. O diretor tinha absoluta certeza da culpa da secretária? Nunca teve. Entretanto, entre preservar o interesse individual da funcionária (punir com a demissão uma inocente) e preservar o interesse coletivo da empresa (protegê-la de uma possível ladra), o executivo não hesitou e resguardou a organização. Se existir um erro, que seja contra o indivíduo e nunca contra a empresa. Logicamente, o diretor sabia, através de evidências, que a probabilidade da secretária ser a culpada era muito alta.

Encontro constantemente pessoas cometendo ilícitos, leves ou graves, e observo como os gestores tendem a proteger o individual e esquecer o coletivo. Na ânsia de ter todas as provas e não cometer injustiças contra os indivíduos, eles falham permitindo lacunas que fragilizam a empresa e esquecem completamente a pedagogia contida nas punições. Certa vez, demiti um gerente quando exerci a função de vice-presidente em uma organização apenas porque desconfiei da sua honestidade. Fui fortemente criticado por pessoas muito próximas e que sabiam porque o demiti, acusando-me de cometer uma provável injustiça. Após a demissão, choveram denúncias anônimas sobre a conduta do sujeito, comprovadas posteriormente através de evidências concretas. Por que as denúncias, tão valiosas, não surgiram antes? Porque meus antecessores, embora bem-intencionados, sempre protegeram o indivíduo e relegaram o coletivo da empresa ao segundo plano.

Um líder nunca pode hesitar em proteger sua empresa. Neste caso, o interesse coletivo da empresa deve prevalecer sempre sobre o indivíduo.